sábado, 10 de abril de 2010

A gente não sabe mais ser feliz

A gente não sabe mais ser feliz. Ou até saiba mas tem vergonha ou falta a vontade, sei lá. Mais parece que, com tanto relógio e ponto a ser batido, desaprendemos como fazer pra sorrir, até chegarmos a... isso: temer o próprio sorriso quando temos vontade de ser feliz! Claro que sempre virão os niilistas descrentes fanáticos com aquele discurso pronto cheios de palavras de ordem: “mas nós nunca fomos felizes”. É verdade, os que falarem isso nunca o foram – não têm imaginação suficiente pra alcançar a felicidade. Pois bem, em homenagem a eles sejamos didáticos: pra que saber se já houve um tempo em que fomos realmente felizes? Se for tão importante assim, criemos uma abstração pra ilustrar a felicidade, como fez uma cambada de teórico na história da humanidade. De fato importante é a irrefutável certeza de que cada homem e mulher nasceu com somente uma razão: a de ser feliz na vida.

Se não fosse dessa maneira, eu diria que os “céus” ou a “natureza” (de acordo com a crença do freguês) seriam extremamente cruéis e injustos. Nascemos, sim, destinados à felicidade, por isso nos foi dado um coração. Falo do coração dos amantes, não o dos médicos (às vezes, tenho dúvidas se médicos e médicas sabem o que é um coração pra amar...). Mas o Criador, cheio de peso na consciência, não quis ser injusto com o resto da criação por dar ao ser humano tamanho privilégio assim, de mão beijada, e resolveu fazer de nós também conscientes. No Gênesis chamam a tal consciência de “maçã”, mas podia ser pêra, banana ou melancia, tanto faz. O importante é que, conscientes de nós e do mundo, passamos a nos entreter e distrair e perder tempo na tentativa de entender tudo... e, enquanto tentamos entender, deixamos de conhecer: esquecemo-nos de viver! Deus, contudo, na sua eterna misericórdia, desde o primeiro dia (lá na macieira) vem tentando nos fazer perceber que há somente uma coisa a se entender na vida: que nada precisamos entender a fim de ser feliz, apenas devemos ouvir o que diz o coração.

Nossa, tão clichê de se dizer isso, não?! Porém, antes me chamarem de brega que mentiroso; sim, porque clichê pode até ser, mas essa é uma das maiores verdades que existem. E, sinceramente, acho que somente a classificamos como clichê por não conseguirmos alcançá-la. O nível de desenvolvimento técnico a que chegou a humanidade é impressionante. Desenvolvemos os reatores – e lá vêm as bombas. Criamos a internet – e desconhecemos a privacidade. Curamos um grave câncer – mas só de quem possa pagar. Triplicamos a produtividade agrícola – a fim de que as galinhas tenham uma alimentação saudável e balanceada... e as pessoas ainda insistem em morrer de fome! É, nosso desenvolvimento tecnológico é impressionante; pena que o maior produto de noites mal dormidas num laboratório seja filhos neuróticos e amores frustrados: perguntem ao Joãozinho, filho de 2 anos da Profa. Dra. Isabel Fontana – renomada biogeneticista – de que interessa a ele o resultado de uma grande pesquisa de sua mãe com um gordo financiamento. Provavelmente ele não vai responder: desenvolveu uma timidez quase patológica há alguns meses. E, apesar de sua mãe não o saber: foi por carência, por sentir falta dela. É verdade – claro! – que a vida de Joãozinho deve superar em muitos anos a de seus avós e grande parte disso é responsabilidade do desenvolvimento técnico trazido pelo esforço e pelas noites de cientistas e pesquisadores, como a Profa. Dra. Isabel Fontana, dolorosamente afastados dos filhos. Mas, droga: esqueci de lhe perguntar se prefere passar tantos anos sozinho ou escolhe viver bem menos, tendo sua mãe toda noite colocando-o pra dormir. Bom, não sei dele, mas eu gosto tanto do carinho de mainha...!

Pelo menos quando se trata de equações, a gente sabe que existe um resultado certo – e todos os outros estão errados. Pensar é fácil, difícil é amar. Ou, no mínimo, permitir-se amar e ser feliz. Se é culpa cristã, preguiça ou qualquer outro motivo, não sei, mas com certeza a gente desaprendeu como fazer pra ser feliz. E bem por isso, no momento em que encontramos a felicidade, ficamos sem chão e sem saber como agir, o que fazer, onde meter as mãos. Não: ser feliz numa sociedade de técnicos frustrados dá medo! Melhor mesmo esquecer a tal da felicidade. Ok, esquecer completamente não, mas nada além do efeito de um baseado sexta-feira a noite ou uma rapidinha no sábado. Acima disso, felicidade só dá medo! Melhor que se deixar levar por ela, é ficar onde estamos, tratar com o que já conhecemos e que, bom ou ruim, nos é habitual (e, por essa razão, não assusta como assusta a possibilidade de ser feliz): numa sociedade de técnicos frustrados que esqueceram de sorrir e amar, “medo” é o nome desse lugar onde estamos nós.

O problema maior surge quando até quem se dispõe à felicidade, quem afirma pra si “sim, eu posso amar!” passa a ter medo de sorrir. Não que o medo já não existisse, não é isso: temer nos é tão inerente e instintivo quanto a necessidade por água, comida e amor. O problema é o egocentrismo desse amor: é característico dele não saber conviver com nenhum outro sentimento. É ele e pronto e, se algum outro, em qualquer momento, torna-se maior e toma-lhe a frente, já vem ele enciumado querendo ir embora. E o medo até acalanta quem o sente com mais intensidade do que sente o amor; mas e quanto ao outro, à outra pessoa que ainda ama? Como fica ela, sem medo e sem reciprocidade em seu afeto?! Amar sem ser amado... pobre de quem passa por isso! Por isso a gente precisa relativizar a mentira: tem vezes em que mentir nem é tão repudiável. É só olharmos pra quem ama sem ser correspondido: quando o medo se mete num coração que antes amava, obriga o outro à mentira, a declarar aos sete ventos que também ele deixou de amar. Não porque não mais ame de verdade, nem por pretender que seus amigos e parentes acreditem naquelas palavras. Quem ama sem ser amado afirma não amar por precisar convencer a si próprio, não aos outros. Se apega ao velho ditado que diz: “uma mentira repetida por cem vezes torna-se verdade”. Então, “eu não a amo, eu não a amo, eu não a amo...”. Ainda que pra isso rasgue o peito e estoure os miolos, apenas mente que o ser amado deixou de ser o vício da sua vida por precisar mentir, porque se dispõe a ser feliz mas sabe que é impossível ser feliz sozinho.

Certa vez, tive um amor me deixou porque... porque me amava! Ou melhor, deixou por receio. Ficamos juntos até o dia em que ela se deu real conta de que me amava. Mas como não queria chamar de amor o que sentia, preferiu me deixar. É, acho que o mais apropriado é dizer que meu amor me trocou pelo medo de amar. A confiança, a cumplicidade, as declarações, carinhos e afetos, nada foi suficientemente maior que seu medo de amar. Não a culpo, também, crescer – como quase toda garota – com uma mãe ao pé do ouvido dizendo que a mulher deve se esforçar a fim de não ser pegajosa nem sufocante, além da necessidade de ser independente, claro... e de repente, se olha no espelho e vê sua cara de peixa-morta, completamente apaixonada... E nem só a mãe, mas todo o resto do mundo: do que ela não se dá conta é de ser este o mesmo mundo que desaprendeu como se faz pra ser feliz.

Como um grande lago é o amor, atraente, imenso e belo feito nada. Talvez só não tão belo quanto os olhos da mulher amada. Mas quanto maior o lago, quanto mais longe for a margem oposta, mais medo temos de nos atirar e dele nunca mais descobrir onde é a saída. Assim é o sentimento: maior o amor, mais medo nos dá. Ainda porque não há lago tão profundo como o mais raso dos amores. Por isso não a culpo, aquela de que falei lá em cima. Na verdade, não me cabe julgá-la, menos ainda condená-la! Eu apenas a aceito, nas suas decisões, nas discussões e desejos: enquanto ela der ouvidos ao seu coração, pouco importa o que queira ou como queira: seu coração está sempre certo, ainda que esteja errado. E, de qualquer forma, não dizem haver doido pra tudo? Pois bem, talvez ela só estivesse assim, doidinha, e nesse momento de insanidade achou até possível ser feliz sozinha.

Um comentário:

  1. ...o que dizer, meu amigo?!?
    Mas vale lá o "cântico dos cânticos"... um dos mais belos poemas da busca do Amor!
    O Amor, amigo, as amadas e amados, fogem! Cabe a nós não fugir... nem fingir!

    Poeta é um bicho tonto demais...! Cuidado, coração!!!

    Boa Sorte...

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