terça-feira, 28 de setembro de 2010

Enquanto isso, na Cidade Proibida...

Na Cidade Proibida, o Imperador Xi-cezár Peluzzô chamou os amiguinhos pra brincar de rei. Xan-Tofólli, Xun-Mendêz e Xong-Mellô desenrolaram um pergaminho. Em cima da mesa, agora, se estendia um mapa delimitando cada região do império chinês. Pegaram uns dados, umas pecinhas e começaram a jogar. “3 contra 2 na Manchúria”, “2 contra 1 de Taiwan pra Xangai”. Lá pras tantas, porém, Huang-Barbosa, Hiayres-Britto e Hawan-Dovsky, três dos poucos que haviam tido permissão e curiosidade de pisarem fora das Muralhas do Dragão começaram a temer pelos barulhos que vinham da Pequim em pavorosa. Hicarmin-Lucí e Hellen-Graxie alertaram aos outros, mas Xinmarcau-Rélio riu e o imperador disse: “Eu sou o Deus, a lei sou eu”.

Havia anos que era assim: lá dentro o imperador brincava, lá fora o japonês mandava.

Até que, um belo dia, Mao apareceu e convenceu um povo cansado de ser mudo a invadir a Cidade. Fizeram um estardalhaço, cortaram umas cabeças e acabaram com a festa de todo mundo.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Céu de estrela

Minha casa de pedra e eu, aqui, desejando aquele céu feito de estrela. Lá fora chove, as nuvens berrando brabas afogam tudo, do chão ao firmamento. Eu fecho a janela, pois mãe não me deixa sair. “Menino, olha a água! Menino, olha o frio! Menino, olha a gripe!”. Sento na cama e umas lágrimas escorrem: “Menino quer olhar estrela, mãe!”, mas mãe não entende...

A luz cai. Menino sozinho no quarto tem medo de escuro, mas mãe não gosta de ser perturbada à noite. Acendo uma vela. Sem luz da janela, o fogo brilha refletido nas lágrimas espalhadas pelo chão. Menino chora mais e mais. Mas pára e sorri ao perceber que o chão duro do seu quarto se transformou, agora, num céu bem bonito, cheinho de estrela.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Texto pelo casamento de Larinha e Vitor Hugo



Do amor ninguém foge. O amor ninguém inventa. A amar ninguém ensina, mas a gente aprende. De um jeito ou de outro, aprende. Claro, porque tanto o quanto sentimento, amor é escolha. Igual a tudo na vida, amor é sorte e é também vontade. Talvez a gente não ame sem que a vida nos permita, mas com certeza ninguém pode amar se ao amor não se abrir, não há quem ame sem se dispor a amar.

Na mais aleatória conjuntura de fatos e acontecimentos, a gente se encontra. Por uma série improvável de acasos, a gente se encanta e, às vezes contra a própria vontade, nos apaixonamos. O responsável pelo encontro pode ser um tropeço, uma gafe, até uma fossa, a frustração de um amor que passou. Há vezes em que o amor até parece um grande palhaço: gosta de brincar, fazer joguinhos, adora aparecer de repente num corredor de supermercado, numa sala de aula, na fila do banco ou esbarrar na gente andando no meio da rua. Na internet, na casa de amigos, na festa de aniversário da prima de 2º grau de cuja existência você nem sabia até uma semana atrás.

Pouco importa onde ou quando, o amor acontece. Sempre e pra todos e todas. E, daí, resta a escolha entre amar ou deixar de viver. Quando acaba um relacionamento, dói, a gente sofre e, se for grave, até diz que não querer – nunca mais! – amar. Mentira. Mais sofre quem mais amou e esse pode viver sem tudo, só não sem o amor. E quando vem a paixão, quando os sininhos tocam, quando o mundo fica mais bonito até sem nada haver mudado, quando o amor, enfim, começa, sempre parece que tudo pelo que passamos valeu à pena.

Por isso é bom dizer: acredite no amor. Até sem fé, até quando não puder acreditar na própria crença, não descreia do amor, porque amar sempre vale mais à pena do não acreditar. De tudo que há de grande e pequeno na vida, o que mais vale a pena é o amor.

Comemorar o encontro de pessoas que se amam faz, então, todo o sentido. Se bom na vida é amar, bom na vida é sorrir. A gente pode descrer de tudo, pode esquecer, não lembrar, deixar de saber. Ninguém conhece mesmo o sentido da vida. Mas uma certeza jamais deixa de estar presente, ainda que lá no fundo, mesmo escondia, até quando a procuramos sem encontrar ou negamos sua existência: mais que a certeza da morte, a gente tem convicção de que nasceu pra ser feliz.

Como, por que, quando encontramos a felicidade?, isso ninguém pode responder. Mas não há dúvidas de que nada rima mais com “felicidade” do que “amor”, do que “amar”. “Sinônimo de amor é amar”, canta Zé Ramalho. Amar, verbo, atitude, amar com vontade, com gana e desejo. Agir como quem não apenas espera a felicidade, mas a constrói, dia a dia, ao acordar num beijo a pessoa amada, ao dormir abraçados, ao ter certeza de que ninguém é feliz sem optar pelo amor. E o mais bonito é quando a gente pode olhar pro lado e perceber que até o amor pode ter nome e sobrenome e corpo e pelos e tantas qualidades quanto defeitos. Mas, e daí? De que tanto importam os tantos defeitos quando a gente continua a escolher o amor? De que importa todo o resto, se a gente se dispõe a amar?!