terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Nosso Senhor de Porto Príncipe


Pelo sacrilégio, Deus me perdoe, mas... Deus não perdoa! Se perdoasse não fazia com o Haiti o que tem feito. É brega, é clichê, mas sim: pobre do Haiti. Pobre mesmo. Falo da mais miserável economia da América, mas nem é disso que se trata, e sim da impiedade divina contra um punhado de terra imprensado entre o mar do Caribe e a República Dominicana. E que terrinha desgraçada...!

Aos que se sentiram vingados com o Katrina (porque “com a natureza nem os EUA podem”) meus pêsames: as crianças que sofreram eram tão crianças quanto quaisquer outras. Aos que se sentiram com a queda das torres gêmeas, piedade por acreditar que a morte de um punhado é bênção pro resto: era quase isso que Hitler pensava. E, vejam só, a queda das torres resolveu tanto o problema do mundo que, desde 2001, todos vivem em paz sem ouvir falar de guerra ou opressão, não é?!

Mesmo antes de Nietzsche, catástrofe natural já havia perdido o status de condenação da justiça divina. É fácil pra quem sobrevive dizer que um terremoto ou furacão foi o dedo de Deus apresentando sua fúria. Sinceramente, se eu engrossasse o número de mortos, não acharia essa uma forma razoável nem justa de se pensar. Mas... e daí?! Se eu estivesse morto, ninguém me escutaria: quem morre, apenas se cala e ainda é forçado a ouvir um bocado de discursos inflamados de tanta palavra e pouco sentimento. Atitude então, é coisa rara! Tenho quase certeza de que daria trinta medalhas de honra pra ter minha vida de volta...

E é quando se vê como não cabe a Deus perdoar. Ou melhor, cabe sim: que Ele tenha piedade das almas dos homens e mulheres, pois se o Japão foi condenado a tantos tremores a mais que as Antilhas, as mortes no Haiti não são, de certeza, responsabilidade divina, mas culpa nossa. Minha culpa. Minha culpa. Nossa culpa!

Que Deus me perdoe por blasfemar contra seu nome. Mas nos perdoe ainda mais por termos feito o que fizemos com o Haiti